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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Renascer - A vida não cessa e prossegue além-túmulo

 Nascer, viver, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei. Assim afirmam os que conhecem a vida e sabem como ela verdadeiramente é. 

Pela porta do nascimento, o lar enche-se de alegria, pois é mais uma vida que está chegando para juntar-se aos outros da casa. Quando se acrescenta, não há tristeza. A expectativa explode em risos, festas e presentes, quando o primeiro choro é ouvido. É uma presença que ainda não era contada entre os vivos da Terra. 

Entretanto, quando esse portal se abre para dar passagem aos caminhos da morte, o lar se enche de dor, de angústia, de incertezas. É a partida de um ser que estava integrado à família; é a ausência de alguém que não será mais visto entre nós, de alguém que nos ouvia, nos ensinava, participava conosco os momentos de cada dia ou conosco dividia alegrias e tristezas. 

Mas, afinal, o que é a morte? 

Seria ela o fim de uma existência ou o fim de uma pessoa? Como compreender esse doloroso instante da vida? 

Será que podemos chorar os nossos mortos e dirigir a eles nossas fervorosas orações, buscando reduzir o vazio, o precipício, o impacto desastroso que causa a partida para o outro lado da vida de alguém que amamos? Será que nossas rogativas serão ouvidas? Será que nesse outro plano, invisível para nós, nossas preces alcançam o destino? 

A vida não cessa! A morte, embora separe os corpos, não separa os corações nem interrompe o sentimento, o amor, e não extingue o Espírito, que é eviterno e foi criado para a eternidade. 

Loucura é pensar que a figura sinistra da morte, além de provocar a separação das pessoas, pusesse um ponto final na existência do Espírito. 

Fosse assim, Jesus, o Mestre Divino, não viveria mais, como não viveriam também outros personagens que vez por outra conclamamos e reverenciamos em nossas orações, pedindo proteção e ajuda para nós, para os que estão ao nosso lado e para os que se acham em estado de necessidade. 

Crer que a vida cessa com a morte é não crer que Jesus seja O Caminho, A Verdade e A Vida. 

Os que partiram também se alegram, nos veem, nos acompanham e igualmente se entristecem e sofrem quando lamentamos e não compreendemos com resignação essa prova dolorosa! 

Pelo fato de não enxergarmos esse outro lado da vida, não significa que deixaram de existir. Não estão conosco fisicamente, é uma verdade, mas continuam “vivos” nesta outra margem. Como disse o Mestre, “Deus é dos vivos e não dos mortos; não há deus dos mortos”. 

Ergamos nossas mãos ao Céu em oração e deixemos nos envolver por esse sentimento de amor profundo, cujos laços não se perdem no infinito. 

Orar é banhar-se de luz; orar é inundar-se de forças poderosas do mundo invisível para atuar com segurança no mundo de formas visíveis, que é o nosso, guardando no coração a certeza da vida eterna. 

A imortalidade é a luz da vida, como este refulgente Sol é a luz da natureza. Creia em Deus! Creia em Jesus! Creia na Vida Eterna! 

Vladimir Polízio – A vida não cessa e prossegue além-túmulo 
                                                                    - O Consolador – N° 340 – 01/12/2013

Renascer - Consciência cósmica

 “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei.” 
- Allan Kardec 

Ensinam-nos, quando ainda em tenra idade, mas já capazes de compreender conceitos aparentemente tão complexos – não se iludam os ingênuos –, que é no campo do Espírito, berço dos sentimentos, que acalentamos nossos sonhos, desejos e, dizemos nós hoje, todas as imperfeições morais, que somente mais tarde terão as condições propícias para se manifestarem. 

E é nesse momento da vida que seres amorosos – às vezes nem tanto – nos conduzem, com relativa segurança – às vezes nem sempre –, a caminhos menos tortuosos, nos propiciando oportunidades em que possamos desenvolver algumas potencialidades que garantirão, em fase adulta, a possibilidade do sustento material e moral. 

Ensinam-nos, também, que todos os sentimentos, sejam eles quais forem, devem, necessariamente, passar por um filtro para que possamos viver uma vida comunitária, onde leis sociais regulam as relações entre os homens. 

Não nos é facultado, assim, exprimir todos os nossos sentimentos - sejam eles bons ou maus - sem corrermos o risco de infringir as leis humanas, não nos importando, por ora, onde e quando essas leis são praticadas, podendo, com isso, sofrer severas punições. Esse filtro, chamam-no razão. 

Dessa forma, tudo que recebemos e emitimos deve passar por esse crivo para que, com equilíbrio, tenhamos nossos direitos respeitados, e aprendamos a respeitar os do outro. 

Avançamos, assim, como que envoltos em uma nuvem densa, vivenciando situações que nos causam, na maior parte do tempo, verdadeiro pânico pelo nosso total desconhecimento do que fazer e como fazer com as dificuldades que, inevitavelmente, surgem – porque são partes da própria vida. 

Somos, ainda, as crianças de outrora, tateando o mundo ao nosso redor, descobrindo objetos, ensaiando passos, para aprender, mais adiante, a dominar o espaço em que vamos nos movimentar. 

E lentamente, descobrindo nossos limites, e, com muita dificuldade e pouca tolerância, o limite do outro; testando ações e reações – a nossa e a do outro – para termos a certeza de poder manipulá-las, trazendo algum benefício para nós próprios. 

Tentativas de ensaio e erro, entre nós e o outro, em jogo de aprendizes, onde imaginar que se pode levar vantagem sempre é perder por antecipação. Brincadeira de crianças que acreditam ser o resultado o objetivo final. 

Justamente, por não se saber o que fazer e como fazer, é que permanecemos nessa situação aflitiva de errar e recomeçar, e errar, novamente, para acertar mais além, que parece interminável. 

E, por mais angustiante que seja esse momento em que nos encontramos, dentro do processo evolutivo, não poderá ser de outra maneira por ora. Ainda nos encontramos e nos sentimos como ser dual: de um lado coração e de outro razão. Um, o berço; outro, o filtro dos mesmos sentimentos. 

Confusão natural para quem busca o Ser Total.

No nosso entendimento, a confusão só se instala na medida em que há dúvida ou desordem. 

Sabemos todos que a criação obedece a Leis Universais, e que, se vemos desordem na obra divina, ela é apenas aparente, pois nossa visão não alcança a totalidade dessa criação. 

Desconhecemos, quase que totalmente, a perfeita harmonia entre todos os elementos que estão ao nosso redor – e isso, para falarmos apenas do mundo material que percebemos. E se longe estamos de perceber inclusive o equilíbrio que se faz presente dentro de nós, no nosso próprio corpo físico, o que dizer, então, da Criação! Resta-nos, assim, verificar a dúvida. 

Parece-nos claro que, à medida que o homem se percebe ora como razão, ora como coração, não consegue se encontrar como unidade, como Ser criado para evoluir e ser feliz. 
Quase nunca se dá conta de que ambos os momentos, em alternância contínua na eternidade da existência, representam partes dessa unidade, e que, por essa razão, têm a mesma importância no processo evolutivo. 

Miríades de oportunidades surgem para que isso ocorra; mas, pelo fato de não se identificar como unidade, estabelece-se a dúvida: será uma coisa, ou será outra? E a confusão instala-se, pois no fundo de sua consciência, ainda que de forma nebulosa, tem certeza dessa sua totalidade como Ser. 
Essa incerteza é angustiante! 

A noção que esse homem parcial tem dessa totalidade, que não consegue apreender, mas que se percebe como tal, encontra explicação na ideia de que o germe da árvore contém a árvore, mas não é ela; dessa maneira, a noção de ser consciência cósmica – Ser Total – e, portanto, infinito, está contida na mente desse homem, sem que seja ela própria essa consciência. 
Tal conceito, no nosso entender, nos sugere que a mente - limite temporal e espacial -, presa a um corpo físico – limite material – é a representação dela para sua manifestação e evolução infinitas. 

Enquanto presa a essa matéria densa, essa consciência representa uma totalidade relativa – se levarmos em conta sua capacidade constante de expansão – de todas as experiências vividas até o presente momento. 

O homem ter uma consciência cósmica e não ser a consciência cósmica é humanamente compreensível e compreensivelmente humano, na medida em que se identifica, ainda, como criatura humana pelo que possui e não pelo que é. Limitações evolutivas na compreensão da obra divina!... 

Lentamente, caminhamos para essa percepção. 
Movimentos lentos, ainda, ora em direção à razão – necessidade de conhecimento -, ora rumo ao coração – necessidade de sabedoria – a nos possibilitarem avançar sempre, mais rápidos alguns, mais lentos outros, para o cumprimento da Lei do Progresso.

Destino nosso? Certamente! E, na verdadeira acepção da palavra, é algo do qual não nos é dado fugir. 
Poderemos acelerá-lo, retardá-lo, adiá-lo, mas evitá-lo... jamais! E quão tolos somos ao tentar fazê-lo. 
É da Lei que progridamos e assim será, queiramos ou não. 
Retardatários somos todos nessa caminhada. 
E ainda bem que somos forçados a caminhar. 

Leda Maria Flaborea – Consciência cósmica 
                                                                    - O Consolador – N° 632 – 18/08/2019
 

 

Renascer - A jutiça da reencarnação

 No diálogo entre Jesus e Nicodemos (João 3:1-12), o primeiro diz ao segundo que temos de renascer (v. 3) e distingue a carne do Espírito (v. 6). 

Deus cria os Espíritos simples e ignorantes, (1) que se aperfeiçoam mediante as MÚLTIPLAS EXISTÊNCIAS. (2) Caso essas não existissem, não explicaríamos tamanha diversidade social. Então perguntamos: 
“Seriam essas a Bondade e a Justiça Divinas?” 

Só a REENCARNAÇÃO elucida essas diferenças. 

Alguns líderes religiosos ao se depararem com esses problemas dizem: “mistérios de Deus!”. 

Pensamos serem esses argumentos vagos e ilógicos, portanto, não os aceitamos.

Acreditamos ser a REENCARNAÇÃO uma Lei Divina, e não uma mera filosofia religiosa. 

Quanto ao Inferno e às penas eternas, cremos serem essas contrárias à Misericórdia e à Justiça Maior. Pois Salmo 103: 8-10 fala que Deus é Misericordioso, Piedoso, que não reprovará perpetuamente etc. 

No Novo Testamento, vemos Cristo falar a Pedro que devemos perdoar setenta vezes sete (Mateus 18:21, 22), entendemos indefinidamente. Não seria estranho Jesus nos recomendar um preceito que apenas nós deveríamos seguir? Assim redarguimos: “Seriam essas a Bondade e a Justiça Divinas?” 

Para alguns o Homem é mais justo que Deus. Vejamos isto a seguir: 

Imaginemos que alguém durante a vida cometa toda espécie de crimes e barbáries. Aí, 15 minutos antes de morrer se arrependa sinceramente de tudo. Segundo uns, ele irá para o Céu só porque se arrependeu. Entretanto, se um policial pega esse mesmo sujeito... “CADEIA NELE!”. E este será preso, será julgado e provavelmente condenado. Tendo tudo isso em vista, perguntamos: “Seriam essas a Bondade e a Justiça Divinas?” 

A Lei Humana seria mais Misericordiosa que a Celestial, pois a primeira permite que o réu fique no máximo 30 anos detido. Enquanto a segunda o aprisiona por todo o sempre. Destarte indagamos: 
“Seriam essas a Bondade e a Justiça Divinas?” 

Em alguns países, a pena de morte e a prisão perpétua não existem. Aqui, com “bom comportamento” o preso é solto e pode cumprir o resto da pena em casa. Para uns, o pecador fica eternamente no inferno e pronto. Igualmente perguntamos: 
“Seriam essas a Bondade e a Justiça Divinas?”

Pesquisamos entre 10 mães: se essas morassem no Céu, mas seu filho no inferno, elas ficariam felizes? Todas responderam negativamente. Assim indagamos: 
“Seriam essas a Bondade e a Justiça Divinas?” 

Na Parábola do Filho Pródigo (Lucas 15:11-32): Deus significa o pai, a Humanidade o descendente perdulário. Este, quando sai de casa, simboliza a morte ceifando a Humanidade. No momento em que o rapaz vive uma vida diferente, quando passou a viver dissolutamente, representa que ele reencarnou em outro corpo e levou uma existência cheia de pecados. Todavia, quando retorna para o lar, é recebido de braços abertos pelo progenitor. Deus nos perdoa sempre nos dando uma outra oportunidade. 

Mesmo O Altíssimo sendo Todo-Poderoso, se analisarmos friamente, perguntando-nos: qual é a causa dos sofrimentos humanos e por que existe essa imensa diferença social entre nós? Não poderemos resolver. Entretanto, se colocarmos aí a REENCARNAÇÃO... Bingo!... Tudo fica explicado. 

Exemplifiquemos: 2 homens roubaram um bolo. Segundo uns, ambos foram para o inferno. Só que um furtou por fome, o outro por uma carência moral. Engraçado: o castigo foi o mesmo para eles. Assim perguntamos: 
“Seriam essas a Bondade e a Justiça Divinas?” 

Quando vemos duas crianças: uma rindo, correndo, pulando e brincando. A outra paraplégica numa cadeira de rodas observando tudo aquilo; questionamos: “Seriam essas a Bondade e a Justiça Divinas?” 

É necessário que acreditemos, porém, por maior que seja a desigualdade social, intelectual e moral, que Deus as resolverá plenamente mediante a MULTIPLICIDADE EXISTENCIAL. 

Como lemos no dólmen de Kardec: “Nascer, crescer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”. (3) 

Hugo Alvarenga Novaes – A justiça da reencarnação 
                                                                - O Consolador – N° 462 – 24/04/2016 

(1) O Livro dos Espíritos, (questão 115) 
(2) O Livro dos Espíritos, (questões 114-115) 
(3) http://www.paulosnetos.net/finish/5-artigos-e-estudos/27-frase-atribuida-a-kardec. 

Bibliografia: 

Bíblia Online: https://www.bibliaonline.com.br/


quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Renascer - Uma nova possibilidade

 Reencarnar é transcender a possibilidade de ser-em-si-mesmo. 

O ser traz em si vivências e segredos aprendidos em suas vastas peripécias existenciais milenares. 

Ao nascer ou renascer, decidiu o Pai junto aos seus companheiros de trabalho e à pessoa reencarnante que algumas memórias e habilidades ficariam restritas em seu componente psíquico. 

Assim, diante de uma nova existência, o ser poderia e pode ter a oportunidade de aprender e reaprender comportamentos. 

Nada nem ninguém está pronto e acabado. 

Tudo está em movimento e em construção. 

É preciso encontrar fagulhas de sentido nas novas experiências, para que, fortalecidas, possam render novos frutos renovadores, que possibilitarão ao ser a oportunidade de evoluir – uma tarefa árdua e necessária à alma. 

A vida se assemelha a uma casa em que existem várias portas. 

Portas coloridas, transparentes, portas de vidros, de madeira, portas feitas de tecidos, portas de imaginação. 

Cada ser guarda a vocação ainda limitada de decidir. 

Limitada, pois não a conhecemos plenamente, porque, muitas vezes, nós a passamos a outros, para que realizem a escolha em nosso lugar e, diante disso, perde-se um momento belo de aprendizado. 

Feche os olhos! Olhe em sua volta e perceba em sua vida quantas portas estão diante de você. 

Não tenha medo de imaginar. 

A imaginação foi uma instância de criação para desenvolvermos junto a nossa capacidade de pensar. 

Mas preste atenção para não se perder nela. 

Use-a com cuidado! 

Ouça o seu coração! O que ele diz busca direção e a necessidade de compartilhar com a razão. 

Não é verdade que sentimento e razão sejam inimigos ou desconhecidos. 

Ambos existem em integração. A separação, nós a damos. 

Respire fundo e deixe a energia brotar em você, expandir em seu corpo e sair voltando ao seu lugar de origem – a natureza. 

Perceba o movimento dentro de você. 

Coração bate e faz sons. 

Pensamento age e faz movimentos. 

A respiração lentamente acontece e você vai buscar, pelos sentidos, o que está externo a você. 

Isso se chama vida! 

A vida não é ontem, não é o amanhã, mas é o que acontece agora.

Você tem o poder do tempo de hoje, você tem o poder de se lançar à porta que realizar a sua escolha, mas, observe, você tem uma consciência. 

O que será que a sua consciência diz? 

A consciência é a luz que foi colocada em nós para iluminar o caminho, para direcionar a respiração, sintonizar as batidas do coração, e, enfim, agir em uma direção. 

Aqui estamos, eu, a consciência e a porta. Preciso clareá-la, para abri-la. Tenho medo de não escolher o que preciso escolher, para de novo aprender. Como fazer? 

Bem, de tudo que aprendi até aqui e até agora sobre mim, só tem uma coisa a fazer: abrir a porta! Se não tentar, como saber como aprender e como evoluir? 

Tentemos! 

Fernanda Leite Bião – Uma nova possibilidade - O Consolador – N° 196 – 13/02/2011


Renascer - Nos tempos após

 Conversávamos em nosso grupo de estudos e preparações. Estávamos felizes. Enfim a tão esperada oportunidade de renascer surgiu-nos como proposta divina. Quantas vezes a tivemos e quantas vezes as jogamos ao léu, como se joga um lencinho de papel ao chão, ao relento, ao nada. 

Sabe-se na Terra o quanto é difícil reencarnar. O quanto nos custa ser avaliados para depois sermos aceitos. As reencarnações futuras não terão mais a compulsoriedade como instrumento para alavancar almas desanimadas ou em contínuos erros. Somente renascerão os aptos a construírem sociedades equilibradas e dentro de padrões éticos que impulsionem definitivamente a moral. Nosso grupo preparatório enquadrava-se aí. Renascendo, não nos seria permitido erros primários. As reencarnações futuras terão esta proposta. O que nos deixava apreensivos era a constituição humana em seus parâmetros de ação. Ainda o homem não resolveu suas questões íntimas e pessoais. Ainda não se coloca como artífice da própria evolução. Ainda se tem como um ser apenas sobrevivente. Nós não poderíamos entrar por esses vieses de comportamentos, de ideologias, de perpétuas posturas errôneas. Nosso grupo renasceria para vencer. Era a proposta. 

Desde sempre a humanidade teve as informações necessárias para os renascimentos. Não houve ninguém que reencarnasse em qualquer época da história, que não trouxesse consigo um aval do mundo maior. Que não trouxesse em si as premissas das vitórias espirituais para as quais renascia. Mesmo que em regimes civilizatórios primários, mesmo que inda necessitasse conquistar territórios, mesmo que as lições iluminadas dos planos superiores não pudessem alcançá-lo de imediato. Era, contudo, uma preparação. Eram conteúdos a se avolumar, enriquecendo mentes e corações. Nosso grupo também tinha histórias assim para contar. Tantas vezes de lanças em riste avançamos céleres e celerados, matando, destruindo, conspurcando direitos, envolvendo-nos seriamente com a discórdia. Recebemos os frutos daquelas sementes plantadas. Choramos e nos culpamos. Arrependemo-nos e nos colocamos ao dispor das intempéries para corrigir caminhos. Assim é com todos aqueles que lançam espinhos onde deveriam lançar as rosas. Deus nos cria como sementes divinas. Para florescermos continuamente, para não nos permitirmos as posturas indébitas nos parâmetros do processo da evolução. Um pecadinho aqui, um errinho ali, um deixar para depois acolá. Tudo isto vai se somando e, quando vemos, há um muro cheio de urtigas e lodos. 

Bem ao conhecimento geral, estas reflexões são apenas para mostrar que todos podem, por um tempo, perambular por ondas onde deveriam surfar elegantes e competentes. Lá vem, contudo, o grande dia das arrumações. É necessário aprumar o Espírito para que olhe o infinito na busca definitiva de Deus. Era assim que nos sentíamos naqueles momentos. Espíritos calejados da dor em busca de oásis para novas fertilizações. Nosso oásis seria o plano físico da Terra, tão desgastado, mal amado, desnorteado por apologias estranhas. Não nos competia julgar a história e os homens que a compuseram. Também tínhamos nossa participação no contexto geral. Não nos cabiam escolhas pessoais de nações, continentes, ares e culturas. Seríamos conduzidos pela sabedoria divina onde fosse mais adequado às nossas necessidades atuais. Ali, deixamos de ser crianças choronas e frágeis, pedindo colo e proteção. Ali éramos fortes, valentes, empunhando o bastão das bem-aventuranças que deveríamos alcançar.

Naquela manhã em especial, recebemos a visita de alguém de extrema importância dentro do trabalho de Jesus. Não vinha apenas das alturas, da esfera das governanças planetárias, vinha também das regiões umbralinas onde visita constantemente levando a luz da sua presença, a paz da sua palavra. Espíritos assim não se isolam em seus casulos alcandorados de magnas benesses. Vão até o sofredor, o perdido, o andarilho para indicar caminhos, estimular corações. Chegamos bem cedo à instituição que nos acolhia para os estudos preparatórios. Formávamos um grupo de duzentos pretendentes à reencarnação. Cem homens e cem mulheres. Duas centenas de almas que se juntaram fazia quinze anos e que, estimulados pelas promessas de Jesus, colocaram-se ao dispor do trabalho e do estudo para formar um contingente efetivo de soldados do bem. Adentramos o salão nobre. Sentamo-nos em nossas poltronas previamente marcadas. Os da frente tinham compromissos maiores. Os do meio seriam os intermediários das ações e os últimos os sustentadores das mesmas. Um exército, pois. O comandante renasceria primeiro e nos aguardaria um a um, para de novo agruparmos num futuro pré-estabelecido. Marina Sales tocou ao piano melodias encantadoras. Nossa irmã renascerá no final deste século para as músicas do futuro. De olhar terno e mãos delicadas transportou-nos a regiões superiores da consciência através das notas que harmonizava ali, perante nós. Era uma canção jamais composta. Era para nós, era para o nosso visitante. Os sons evoluíam naquele ambiente e evoluíamos com eles. Ah, o poder da música! Ah, o poder da música celeste! Bendito futuro que nos aguarda! 

Perdemos a noção do tempo. Lágrimas com certeza rolariam em nossas faces. Sonhos não faltariam. E todos nos demos as mãos e cantamos uma letra que alguém iniciou e todos deram continuidade. Era o entrelaçar de almas que ao estímulo inicial das notas tiradas ao piano, compuseram um poema, proposta do renascer. As luzes em formatos diversos fizeram-se presentes envolvendo-nos, balsamizando-nos. Poucos conhecem a luz. Difícil descrevê-la em suas magnas nuances. Ao término daquele concerto de duas centenas de almas, mais uma, estávamos em êxtase. Uma voz suave e terna surgiu e era do tamanho de todo aquele esplendor: 

– Assim serão as reuniões das almas no futuro que virão para o plano físico da Terra. Descansamo-nos naquela suavidade. De olhos fechados imaginamos o futuro. Uma relva, pássaros, árvores bem vestidas em suas folhagens, lago doce e sereno, pessoas contritas em profundo recolhimento e a brisa a perpassar corpos inundando-os de cálida paz. Multicores balouçando quais dançarinas enérgicas e plenas no ato de encantar. E a voz suprema de Jesus, confortando e alinhavando épocas inda mais felizes. Quem éramos nós? Quais feitos nos granjearam aquele momento? Era a pergunta geral em face de tantas dádivas. – Sois daqueles que deixam para trás as torturas de um ego inferior, em desalinho e corrompido e buscam a Deus, em regime de perfeita comunhão. 

Lentamente abrimos nossos olhos. Entreolhamo-nos e nos felicitamos. As belezas ali se confundiam. Homens e mulheres desapareceram, surgiram almas, Espíritos em busca de si emergindo das profundezas abismais que um dia escolhemos por morada, mas que agora ficariam para trás. – Sois partes da Criação. A ela deveis vossos concursos eficazes. Há o tempo para ser menino e menina. Há o tempo para crescer. Eis, agora, a vossa proposta. 

Vimo-nos crianças correndo em busca de algo que nunca encontrávamos. E íamos de lado a lado, lugar a lugar e não nos plenificávamos. Tudo era pouco, vazio, esparso. Toda a graça terminava ao contato das nossas mãos com o objeto cobiçado. Objetos pequenos, efêmeros que se esvaíam. Ouros que se tornavam pó, fumaça, névoa e desapareciam deixando-nos perplexos, à deriva, saltando como se salta na tentativa de pegar nas mãos as bolas de sabão que flutuam e vão e estouram e nos esvaziam. Depois os risos desengonçados, o saltitar de corpos, muitos seminus, prontos para as enfermidades. A troca insalubre das energias deletérias à guisa de prazeres temporários, infiéis, irresponsáveis. As mútuas acusações. Os regimes parcos das diferenças sociais. A fome, a miséria, mas o balançar frenético ao som de notas desatentas e de cadências confusas que em nada enfeitam a vida para suas plenitudes. Tudo isto passou como um bólido em nossas mentes, ao som daquele piano e à melodia daquela voz amena mesmo que forte e sincera. 

– Aprumai-vos. Novos corpos os aguardam. Respeitai-os. São frágeis e podem fenecer se não souberem bem conduzir-vos neles. 

A canção acelerou um pouco, bem como nossos corações. Vimos-nos belíssimos; moços e moças e nos olhamos. Éramos cheios de graças. Nunca a beleza foi tão manifesta aos nossos sentidos em se tratando de corpos, templos da divindade. As moças eram divinas deusas, os moços, Apolos da sábia mitologia. Não nos desejamos, apenas nos felicitamos. Qual ali o mais belo ou bela? Todos o eram. Não havia disputas sobre beleza. Beleza o é, foi e será em todos os tempos. O belo é concepção espiritual de cada alma. O belo é luz que surge para endireitar caminhos, conduzindo transeuntes. – Não mais descereis como outrora o faziam quando das reencarnações transatas. A Terra doravante será para os mansos e pacíficos. Ela atingiu novo grau cósmico. Então subireis aos planos dos ajustes em estagiando no corpo físico. 

Nossos corações bateram fortes. Ouvimos seus ruídos. Uma onda de harmonia perpassou-nos. Não era uma harmonia passiva e sim a harmonia que acelera ideais. Sentimos vontade enorme de renascer e ser entre os seres os mais ágeis na arte das transformações. Erigir coisas e causas novas. Plantar novas sementes – colhê-las depois e distribuir gratuitamente seus frutos para todos em igual proporção. As etnias desapareceram. As culturas quase se fundiram. As latitudes não separavam povos. Os continentes eram uníssonos ao comando geral de Jesus. Sua presença era para todos numa sequência feliz e agradecida. Novas academias surgiram. Respeitavam as academias do passado, porém tinham agora como princípio a absoluta certeza de Deus e as efusivas manifestações da vida em todo o Universo. Pelo campus transitavam flores ambulantes em busca da rega para seus frutos. E se respeitavam como tal, alunos entre si. Mestres entre si, alunos e mestres numa sinfonia onde os pássaros participavam como tenores, contraltos, baixos e sopranos. Também eles desejavam tempos novos para si e os teriam pela afirmação divina que traziam em seus gracejos. – Nada temeis. O comando geral é de Deus sob a proteção do Divino Cordeiro, Jesus. Apascentai vossas chamas. Conduzi-vos pelos caminhos do Evangelho do Senhor. Sede felizes. Sois partícipes da nova era. 

Como aves soltamo-nos das nossas poltronas e nos abraçamos em pleno ar, quais voos alcandorados das aves em festa e nos fizemos cotovias, cantando em plena altura. Quem éramos, que nomes tínhamos? Nada importava ali. Éramos filhos de Deus. Sentimo-nos assim, responsáveis por nós e por todos. Ah! se todos vivessem aquele instante! Certamente o mundo veria a magia das transformações num piscar de olhos, quais movimentos que encantam olhares atentos sem nada entenderem. E os mágicos, em seus volteios rápidos e coerentes a olhar a plateia, apresentando-os à nova Terra! – Ide e pregai através dos vossos comportamentos. Somente eles terão a força para conduzir almas. 

Fechamos os olhos. Sentimos nossas respirações. Acalmamos nossas volúpias. Nossas paixões atingiram a linha do equilíbrio. Éramos assim um grupo de almas qual oceano grandioso num justo momento das calmarias. Permitimos que os navegantes singrassem nossas águas puras e salutares. Éramos seus baluartes. Depois retornamos à posição de humanos cheios de coragem e vigor, revigorados que fomos pela certeza de Deus em nós. 

A música cessou. Aquele momento era findo. Marina Sales levantou-se da banqueta. Tomou o rumo das suas necessidades. O visitante teria outras estâncias a visitar. Ficamos nós. Duas centenas de almas devidamente ungidas para o renascimento. Turbinados para as tarefas, prontos para espargir em nós e onde estivermos as glórias de um tempo após as tempestades do presente. 

Não cansem de trabalhar e aguardar. Renasceremos. Depois retornaremos e voltaremos a renascer, nós e todos vocês. Formemos a corrente do bem a partir de já. Os tempos após serão regidos por almas após suas tormentas, após suas fraquezas, após seus desencantos. Os tempos atuais não prevalecerão. Aqueles que assim pensarem, haverão de fenecer. E serão mortos a cuidar de mortos, nalguma estância além, até os dias futuros dos grandes reencontros. Somos imortais pela proposta de Deus, sejamos também por nossas convicções próprias. É tempo de deixar o menino e a menina. É tempo de permitir-lhes os justos repousos, após tantos séculos a nossos serviços. É tempo das metamorfoses, de trocar as peles, de amadurecer tendões. É tempo de florescer onde Deus nos plantar, como disse o sábio. É tempo de rejubilar-se por ser parte ativa e integrante da Criação. É tempo de preparar-se para os tempos após. 

Guaraci de Lima Silveira – Nos tempos após - O Consolador – N° 256 – 15/04/2012

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Renascer - Tempo de renovação

“As estações sucedem-se no seu ritmo imponente. O Inverno é o sono das coisas; a Primavera é o acordar; o dia alterna com a noite; ao descanso segue-se a atividade; O Espírito ascende às regiões superiores para tornar a descer e continuar com forças novas a tarefa interrompida.”(Léon Denis, O Problema do Ser, do Destino e da Dor, capítulo XVII.) 

Estas palavras de Léon Denis, vistas de um ângulo apenas, mostram ciclos evolutivos de unidades em si como se cada coisa caminhasse independentemente umas das outras: as estações do ano, os dias e noites, o nascer e o renascer. 

Há, todavia, que se entender que enquanto uns descansam outros trabalham, nessa eterna sucessão entre o fim e o recomeço. Para que o Inverno durma seu sono, a Terra trabalha no seu movimento de translação em torno do Sol; para que o dia se faça, quem trabalha permanentemente é o Sol; no descanso da Alma trabalham as células do corpo, refazendo suas energias para outras atividades; o Espírito, no mundo espiritual, é o arquiteto de sua moradia futura, mas é ele mesmo, quando encarnado, que faz a construção. 

É nestes ciclos entre o bem e o mal, a guerra e a paz, o amor e o ódio, entre o nascer e o renascer, que a Alma se refaz e progride, desfazendo-se do mal, da guerra, do ódio, até não mais renascer. Mas ninguém caminha independente dos outros. Sempre estamos acompanhados em nossas lições e tarefas. Ninguém nasce sozinho, ninguém sabe tudo sozinho, exceto Deus. 

A Lei de Sociedade nos impõe a lei de cooperação ou de auxílio mútuo e esta nos impõe a obrigação de respeitar o direito dos outros para que se cumpra a Lei Divina, que dá a cada um segundo suas obras. O homem, portanto, ao realizar sua atividade, deve ligar-se à ideia de fraternidade e do respeito ao próximo, sem egoísmo e orgulho, que são os sinais vermelhos na caminhada do Espírito ou sinal de trânsito interrompido rumo à libertação, como disse André Luiz. 

Nós, encarnados, estamos no inverno para a Alma, ou tempo de renovação para o Espírito. Junho, julho e agosto é tempo de inverno no Hemisfério Sul, mas também é tempo de renovação para outras colheitas. 

Neste fim de milênio estamos num ciclo evolutivo da Humanidade e num tempo de refazimento para a nova jornada como Mundo de Regeneração. A Natureza dá seus passos, cabe a cada Alma acompanhá-la, pelo menos, se não quiser ficar para trás. 

A Natureza, entretanto, não dá saltos, caminha incessante e imperceptível. Também nós não mudaremos de uma hora para outra em nosso comportamento se não revermos os próprios atos; nem o Brasil será o coração do mundo se não se extirparem de seus caminhos as gorduras egoístas que perturbam a circulação do bem e dos bens. Está na hora de reflexão mais profunda para cada Alma deste mundo, encarnada ou desencarnada, se não quiser passar pelas consequências de suas atitudes reprováveis. 

Quando Jesus disse: “Dai a César o que é de Cesar, e a Deus o que é de Deus”, certamente não quis dizer que o mundo de César estava excluído do mundo de Deus. Ele propôs que não misturássemos nossa intenção, fugindo aos compromissos assumidos como Espírito, mas que burilássemos nossa inteligência no exercício do progresso material e aprimorássemos nossa moral na prática do bem. Se religiosos cegos dessa realidade espiritual pensam que podem ganhar o paraíso pelo arrependimento e confissões, um espírita, por certo, sabe que a lei de causa e efeito existe sempre, porquanto a Sabedoria divina se encontra na liberdade de escolha que dá a cada um, para que cada qual possa assumir suas responsabilidades. Deus não castiga nem premia. Sua lei se aplica aos que não se arrependem e aos que se arrependem, aos confessados ou não, na medida exata das intenções que realizam suas obras. 

Estamos no inverno para a Alma, ou tempo de renovação para o Espírito. Aproveitemos esta oportunidade, renovemo-nos, revendo nosso comportamento egoísta e orgulhoso, e ajudemos a renovar os outros, a família, os amigos, a Pátria, para que na Primavera tenhamos um mundo melhor, com flores o tempo todo, para alegrar a vida de todos nós; e para que tenhamos perfume permanente para coroar a vitória dos que têm a paz na consciência pelo dever cumprido. 

Altamirando Carneiro – Tempo de renovação - O Consolador – N° 443 – 06122015


Renascer - Nascer de novo I

Existe um pensamento predominante entre os educadores de que as crianças são como uma tábua rasa ou folha em branco e que a relação com o meio constrói as estruturas de pensamento e do ser da criança. Nos relacionamentos sociais, no que a criança vivencia, está a base de seu caráter. Na revista Nova Escola (1) encontramos o eixo basilar deste pensamento. Ele provém do pensador inglês John Locke. No artigo de Márcio Ferrari, escrito na referida revista, ele descreve: “um aprendizado coerente com sua mais famosa afirmação: a mente humana é tábula rasa, expressão latina análoga à ideia de uma tela em branco”. 

São possíveis várias linhas de pensamento sobre esta posição filosófica. Contudo, enfocaremos a criança como um ser humano que está em uma jornada de aprendizado através de um novo nascimento. Jesus nos ensina sobre este nascer de novo no encontro com Nicodemos. Respeitosamente, Nicodemos pergunta a Jesus: “...que deverei lançar mão para conhecer o Reino de Deus?” Jesus com seu poder de síntese, nos oferece esta profunda frase como resposta: “Ninguém poderá ver o Reino de Deus se não nascer de novo”. (2) 

É uma referência clara à reencarnação, porém, nós temos no íntimo que a reencarnação é real? Ou a reencarnação é uma ideia sem grande importância para os dias atuais? Reflitamos! Quem nos alerta sobre a importância da reencarnação é Jesus. Nascer de novo está como condição para encontrar o reino de Deus. 

Podem nos pairar algumas dúvidas: Como existem outras vidas, se não me lembro nada? Não há comprovação sobre isso: se já reencarnamos. Esta pode ser uma resposta racional quando pensamos em vidas sucessivas. Em contraponto a estas dúvidas, existem diversos estudos, livros sobre lembranças de outras vidas, mas mesmo assim as questões podem persistir e a reencarnação não se tornar algo concreto que se possa observar sua veracidade no cotidiano. Assim, no íntimo podem surgir dúvidas sobre outras existências, mesmo para os espíritas, que podem minimizar a importância do processo reencarnatório para evoluirmos. 

Será que os espíritas, de certa forma ainda estão como Nicodemos? Um fariseu de bom coração, inteligente, mas ainda sem conseguir compreender a lei do nascer e renascer. Jesus respondeu para Nicodemos assim, ante sua dúvida: “Se vos falei de coisas terrestres e não crestes, como crereis se vos falar das coisas celestiais?” (3) 

O saber sobre as múltiplas vidas é pôr em prática no íntimo e nas ações exteriores a compreensão da lei reencarnatória. Para tanto, é importante empreender o nosso melhor no ambiente humano que nascemos. O berço é o melhor lugar, ele molda-se às necessidades da evolução do Espírito. 

“De conformidade com a regra, porém, nosso berço no mundo é o reflexo de nossas necessidades, cabendo a cada um de nós, quando na reencarnação, honrá-lo com trabalho digno de restauração, melhoria ou engrandecimento, na certeza de que a ele fomos trazidos ou atraídos, segundo os problemas da regeneração ou da mordomia de que carecemos na
recomposição de nosso destino, perante o futuro.” (Emmanuel/F. C. Xavier: Pensamento e Vida. Cap. 11, p. 49. 19ª edição, FEB.) 

A morada na Terra foi o lugar que escolhemos pela lei da sintonia, seja esta por sentimentos bons, ruins ou até pela nossa feição psicológica. O que temos no interior do ser se exterioriza a todo momento e atraímos aqueles com mesmo padrão vibrátil; é a parte psicológica a influenciar o renascimento. 

Emmanuel nos explica com propriedade: 
“A chamada hereditariedade psicológica é, por isso, de algum modo, a natural aglutinação dos Espíritos que se afinam nas mesmas atividades e inclinações. 

Um grande artista ou um herói preeminente podem nascer em esfera estranha aos sentimentos nos quais se avultam. É a manifestação do gênio pacientemente elaborado no bojo dos milênios, impondo os reflexos da sua individualidade em gigantesco trabalho criativo. 

Todavia, na senda habitual, o templo doméstico reúne aqueles que se retratam uns nos outros.” (Emmanuel/F. C. Xavier: Pensamento e Vida. Cap. 12, p. 52. 19ª edição, FEB.) 

A nossa vida, como um todo, está entrelaçada de renascimentos. Não temos ideia de quanto o Espírito aferiu de aprendizado nas oportunidades do nascer novamente. 

Portanto, não temos tempo a perder, viver bem é harmonizar-se com o criador no trabalho diário de fraternidade e compreensão. 

Por outro lado, não seria importante sabermos o passado reencarnatório, para bem encaminharmos o que fazemos no hoje? A título de reflexão, imaginemos que nesse instante, todas as lembranças, sentimentos bons, ruins, ações boas, destrutivas, que cometemos, surgissem na nossa tela mental. 

Como seria? Aguentaríamos equilibrar tantas informações a embaraçar o discernimento? 

Acredito que não teríamos maturidade para compreender se toda a estrada que percorremos nos diversos renascimentos brotasse toda de uma vez. Não conseguiríamos equilíbrio com o turbilhão de ideias, remorsos, perdas, acertos, ganâncias, encontros, desencontros a pulularem na mente. 

Não lembrar concretamente certos fatos também é imperioso para não trazermos o erro do passado para interferir no presente. Prejudicaria o propósito reencarnatório de harmonização. 

O esquecimento é uma forma de permanecermos mais centrados, em harmonia interior com os propósitos de reajuste. Deus é sábio. Portanto, não somos uma tábua em branco, uma folha de papel para se escrever. 

O ser humano é muito mais complexo, temos uma verdadeira biblioteca no interior da mente. Muitas vidas e muitos aprendizados.

Por outro olhar, o renascer não acontece somente em uma nova vida. 

Quantos momentos passamos em que a estrada muda, se transforma em grandes desafios existenciais. Um trauma, uma dor profunda, afastamentos, encontros, reencontros, muitas vezes significam mudanças tão impactantes que poderemos dizer, metaforicamente, que foi um nascer de novo. 

Quem poderá dizer que não foi um renascer para Saulo encontrar Jesus no caminho de Damasco? Ele caiu vergado, cego, pela força poderosa do amor de Jesus. 

A proposta de renovação do mestre do amor ainda nos ofusca? Para Saulo, Jesus ofereceu a compreensão de Ananias que, com afeto, retirou a crosta dos seus olhos, fazendo-o ver novamente. 

Quem sabe, para nós, Jesus tenha ofertado o Espiritismo a nos banhar os olhos, para nos fazer enxergar as potencialidades de transformação que possuímos? 

Nota da Redação: 

O texto acima foi contemplado no concurso A Doutrina Explica – 2020-2021, promovido pelo Jornal Brasília Espírita (www.atualpa.org.br), com o objetivo de sensibilizar para a leitura, o uso da biblioteca espírita e levar a conhecer alguma metodologia de pesquisa para apoiar o estudo doutrinário, além de incentivar os participantes para o potencial de racionalização e explicação da realidade social e espiritual pela Doutrina Espírita. 

Gustavo Henrique de Lucena – Nascer de novo - O Consolador – N° 731 – 25/07/2021 

(1) Revista Nova Escola - 01 de Outubro de 2008 

(2) Humberto de Campos, Boa Nova, (cap. 14, pg. 115), (Chico Xavier) 

(3) Novo testamento – S. João, 3:12
 
 

Renascer - Reencarnação - princípio evolutivo

Nosso tema está ligado ao conceito de reencarnação, que significa nascer em outros corpos, tantas vezes quantas forem necessárias, com a finalidade de evoluirmos. Mas o que acontece conosco entre o nascer novamente e o morrer mais uma vez, atendendo a essa necessidade evolutiva? 

É através da família que funciona o princípio da reencarnação. Por isso ela tem função educadora e regenerativa. 

Quando estamos no plano espiritual, ou seja, desencarnados, e se aproxima o dia da volta a um novo corpo de carne, alguns de nós nos sentimos apavorados ante a expectativa desse novo empreendimento. É como estar arrumando a mala para uma viagem, através de mares revoltos e não sabemos se chegaremos com êxito ao final da travessia. 

Alguns pontos são programados antes de nascermos. Pontos importantes como: quem serão nossos pais, se casaremos ou não, que profissão teremos e qual será o gênero da nossa morte, entre outros. Mas não saberemos disso. 

Essa programação, estabelecida anteriormente, dependerá, para ser executada, do nosso livre-arbítrio, da nossa vontade. Por isso é uma programação e não uma determinação. Portanto, não existe fatalismo. Dessa forma, poderemos seguir um caminho oposto ao que nos foi delineado. 

A programação é sempre feita obedecendo às leis divinas, e através dela teremos o que necessitamos para nosso crescimento espiritual. Nascemos, assim, com as condições internas e externas propícias ao nosso adiantamento. 

Parece claro, portanto, que temos o corpo ideal, a família necessária, o lugar propício e a melhor profissão para saldarmos, diante de Deus, os nossos débitos com suas leis. Bendito seja, pois, o retorno ao corpo, através do qual poderemos nos empenhar, de novo, em trabalho e aprendizado daquilo que deixamos de fazer ou que fizemos malfeito. 

Assim, partimos para uma nova viagem, levando na bagagem os recursos que conquistamos até aquele momento, aquisições feitas ao longo das existências, sejam elas boas ou más, pois são as nossas aquisições. 

No campo afetivo não será diferente: teremos ao nosso lado pessoas que conquistamos, seja pelo afeto, seja pelo desamor. Conseguimos, então, compreender, porque são tão importantes as obras que realizamos, em todos os setores da vida, entre o nascer novamente e o morrer mais uma vez. 

Existe uma frase de Emmanuel, estimado instrutor espiritual, que abre uma porta para que possamos compreender o que Jesus pretendeu dizer com “Necessário vos é nascer de novo”. Diz ele: “Falhas do passado procuram-te o espírito irresponsável, seja no corpo, na família, na sociedade ou na profissão, pedindo-te reajuste”.

Essas palavras de Emmanuel permitem-nos refletir nos caminhos que temos para esse recomeçar, porque todas as vezes que falamos em renascer só pensamos em reencarnação na carne, ou seja, em novo corpo físico para continuar o processo evolutivo. 

Entretanto, quando paramos e prestamos atenção ao que acontece ao nosso redor e em nossa própria vida, podemos nos dar conta de que esse renascimento é contínuo e não apenas após morrer e renascer em novo corpo. 

Senão, vejamos: os anos se sucedem, sempre, da mesma maneira, e isto é um processo matemático: depois de 2010 virá, necessariamente, 2011. Mas os dias não. Estes, se prestarmos atenção, são sempre novos. Temos, então, 365 novas oportunidades, a cada ano, para a renovação moral, para realizarmos coisas incríveis, em nós e para aqueles que estão ao nosso redor. Já imaginaram o que poderá acontecer durante toda uma existência? 

Diante desta constatação, fica uma pergunta que necessitamos fazer a nós próprios e que não pode mais ser adiada: “o que estamos fazendo com esse tempo precioso?” 

Tristemente, a maioria de nós mantém-se guardando os detritos e as sombras do passado, mesmo aqueles que vêm revestidos, mascarados de encantamento e prazer ilusórios. Se, ao invés de conservarmos esse vinagre e esse fel, ainda hoje, porque não guardarmos na memória apenas o que foi bom e justo, belo e nobre? O que aconteceu, já aconteceu. Já passou e deve ficar como lição para que o nosso presente, nosso renascer neste dia, seja baseado na experiência vivida que nos enriquece, que nos permite caminhar, hoje, com segurança. 

Uma outra atitude que, infelizmente, ainda mantemos como resquício desse passado, já tão repleto de enganos, é o de deixar que outros façam aquilo que nos compete. Continuamos esperando que os amigos espirituais, nossos benfeitores, realizem por nós e para nós aquilo que o comodismo não nos permite fazer. Tornamo-nos, assim, escravos de nossas próprias imperfeições. 

O ensinamento de Jesus de que é necessário nascer de novo, alerta-nos para esse comportamento de desleixo, de descaso para com nossas obrigações diante da Vida. A nossa negligência nos fará retornar ao corpo material, necessariamente, com cargas de trabalho muito maiores do que a que supomos ter hoje. 

Reportando-se à questão 676, de O Livro dos Espíritos, Emmanuel diz que “a cada momento, o Criador concede a todas as criaturas a bênção do trabalho, como serviço edificante, para que aprendam a criar o bem que lhes cria luminoso caminho para a glória na Criação”(4). Todavia, o fato de praticarmos o bem, de sermos fraternos com os companheiros necessitados e trabalharmos como auxiliares de Jesus na Seara do Pai não nos exime dos compromissos anteriormente assumidos, por conta dos nossos enganos. 

O trabalho é uma dádiva celeste, porque nos fortalece para termos condições melhores de suportar a carga de comprometimento que trazemos, e nos protege para que não venhamos a falir outra vez, aumentando, ainda mais, a carga de dificuldades que já possuímos.

É através dele que quitamos o passado, que criamos condições para nos realizarmos no presente, garantindo, por isso mesmo, os créditos para o futuro. 

Vale a pena meditar a respeito desses ensinamentos, que nos chegam através do Espiritismo. Vale a pena fazer uma limpeza em nossa bagagem, jogando fora o orgulho, carga perniciosa que pesa em nossa economia moral. Vale a pena nos livrarmos do egoísmo, bagagem pesada e perigosa. É um trabalho diário, individual e intransferível. 

A cada manhã, meus irmãos, ao acordarmos, agradeçamos ao Pai a nova oportunidade que surge, junto com o Sol ou a chuva, para a nossa renovação, para o nosso renascer. Ela não acontece apenas quando retornamos ao mundo material para novas experiências e entre elas a de refazer caminhos. Ela acontece todos os dias ao renascermos para a Vida. 

Leda Maria Flaborea – Reencarnação – princípio evolutivo 
                                                                                – O Consolador – N° 436 – 18/10/2015  
Bibliografia:

1 Kardec Allan, O Evangelho segundo o Espiritismo, (Cap. IV) 

2 Emmanuel, Fonte Viva, (lição 56), (Chico Xavier) 

3 Emmanuel, Palavras de Vida Eterna, (lição 56), (lição 177), (Chico Xavier) 

4 Emmanuel, Religião dos Espíritos, (pag. 115), (Chico Xavier) 

5 Emmanuel, Vinha de Luz, (lição 169), (Chico Xavier)


Renascer - Nascer de novo II

Nosso tema está ligado ao conceito de reencarnação, que significa nascer em outros corpos, tantas vezes quantas forem necessárias, com a finalidade de evoluirmos. Mas, o que acontece conosco entre o nascer novamente e o morrer mais uma vez, atendendo a essa necessidade evolutiva? 

Existe uma frase de Emmanuel que abre uma porta para que possamos compreender o que Jesus pretendeu dizer com “Necessário vos é nascer de novo.” Diz o querido Instrutor Espiritual: “Falhas do passado procuram-te o espírito irresponsável, seja no corpo, na família, na sociedade ou na profissão, pedindo-te reajuste” (3). Parece claro, portanto, que temos o corpo ideal, a família necessária, o lugar propício e a melhor profissão para saldarmos, diante de Deus, os nossos débitos com Suas Leis. Bendito seja, pois, o retorno ao corpo, através do qual poderemos nos empenhar, de novo, em trabalho e aprendizado daquilo que deixamos de fazer ou que fizemos mal feito. 

Essas palavras de Emmanuel nos permitem refletir nos caminhos que temos para esse recomeçar, porque todas as vezes que falamos em renascer só pensamos em reencarnação na carne, ou seja, em novo corpo físico para continuar o processo evolutivo. Entretanto, quando paramos e prestamos atenção ao que acontece ao nosso redor e em nossa própria vida, podemos nos dar conta de que esse renascimento é contínuo e não apenas após morrer e renascer em novo corpo. 

Senão, vejamos: os anos se sucedem, sempre, da mesma maneira, e isto é um processo matemático: depois de 2004 virá, necessariamente, 2005. Mas, os dias não. Estes, se prestarmos atenção, são sempre novos. Temos, então, 365 novas oportunidades, a cada ano, para a renovação moral, para realizarmos coisas incríveis, em nós e para aqueles que estão ao nosso redor. Já imaginaram o que poderá acontecer durante toda uma existência? 

Diante desta constatação, fica uma pergunta que necessitamos fazer a nós próprios e que não pode mais ser adiada: o que estamos fazendo com esse tempo precioso? 

Tristemente, a maioria de nós mantém-se guardando os detritos e as sombras do passado, mesmo aqueles que vêm revestidos, mascarados de encantamento e prazer ilusórios. Se, ao invés de conservarmos esse vinagre e esse fel ainda hoje, porque não guardarmos na memória apenas o que foi bom e justo, belo e nobre? O que aconteceu, já aconteceu. Já passou e deve ficar como lição para que o nosso presente, nosso renascer neste dia, seja baseado na experiência vivida que nos enriquece, que nos permite caminhar, hoje, com segurança. 

Outra atitude que, infelizmente, ainda mantemos como resquício desse passado já tão repleto de enganos é o de deixar que outros façam aquilo que nos compete. Continuamos esperando que os amigos espirituais, nossos benfeitores, realizem por nós e para nós aquilo que o comodismo, não nos permite fazer. Tornamo-nos, assim, escravos de nossas próprias imperfeições. 

O ensinamento de Jesus nos alerta para esse comportamento de desleixo, de descaso para com nossas obrigações diante da Vida. A nossa negligência nos fará retornar ao corpo
material, necessariamente, com cargas de trabalho muito maiores do que a que supomos ter hoje. 

Reportando-se à questão 676, do O Livro dos Espíritos, Emmanuel nos diz que “a cada momento, o Criador concede a todas as criaturas a bênção do trabalho, como serviço edificante, para que aprendam a criar o bem que lhes cria luminoso caminho para a glória na Criação” (4). Todavia, o fato de praticarmos o bem, de sermos fraternos com os companheiros necessitados e trabalharmos como auxiliares de Jesus na Seara do Pai, não nos exime dos compromissos anteriormente assumidos por conta dos nossos enganos. O trabalho é uma dádiva celeste porque nos fortalece para termos condições melhores de suportar a carga de comprometimentos que trazemos e nos protege para que não venhamos a falir outra vez, aumentando, ainda mais, a carga de dificuldades que já possuímos. É através dele que quitamos o passado, que criamos condições para nos realizarmos no presente, garantindo, por isso mesmo, os créditos para o futuro. 

Lembra-nos Emmanuel, mais uma vez, que “cada hora que surge pode ser portadora de renovação” (3). Por isso, não podemos mais perder tempo. Se podemos criar agora laços de afeto, de amor e paz, em substituição às pesadas algemas de desafeto, façamo-lo, pois o melhor antídoto contra a aversão é a nossa vontade verdadeira de compreender e perdoar aqueles que ainda não nos compreendem ou perdoam. É importante mostrarmos aos que nos cercam que temos novas disposições para enfrentarmos as dificuldades, sejam elas quais forem. Isso traz alívio ao nosso coração. 

A cada manhã, ao acordarmos, agradeçamos ao Pai a nova oportunidade que surge, junto com o Sol ou a chuva, para a nossa renovação, para o nosso renascer. Ela não acontece apenas quando retornamos ao mundo material para novas experiências e entre elas a de refazer caminhos. Ela acontece todos os dias ao renascermos para a Vida. 

Trabalhemos agora, modificando atitudes, renovando propósitos, superando os obstáculos que nos cercam, antecipando, assim, a vitória sobre nós mesmos. 

Leda Maria Flaborea – Nascer de novo - O Consolador – N° 40 – 27/01/2008 

Bibliografia: 

1 Kardec Allan, O Evangelho segundo o Espiritismo, (cap. IV) 

2 Emmanuel, Fonte Viva, (lição 56), (Chico Xavier) 

3 Emmanuel, Palavras de Vida Eterna (lição 177), (Chico Xavier) 

4 Emmanuel, Religião dos Espíritos, (Pag. 115), (Chico Xavier) 

5 Emmanuel, Vinha de Luz, (lição 169), (Chico Xavier) 

Renascer - As várias mortes em uma vida

 “Não há mal que por bem não venha,” (ditado espanhol) 

O que é vida, sob o ponto de vista terreno? 

Vida é tudo aquilo que acontece entre o nascer e o morrer do corpo físico: eventos físicos, sociais, psíquicos ou espirituais que ocorrem ao longo de uma existência na Terra. 

Tudo o que nos acontece de bom, ruim ou neutro tem, como objetivo principal, nossa evolução. (Recordando que muitas vezes aquilo que julgamos como mau é, em verdade, algo bom e vice-versa). 

Diz a Lei que devemos nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre. Portanto, não existe a possibilidade de retrocedermos na caminhada, tampouco de desistirmos no caminho. Não conseguimos nos destruir, não existe a possibilidade da inexistência. Sobreviveremos a tudo. O que temos é o direito de decidir se sofreremos mais ou menos durante este rico e maravilhoso percurso. 

E, dentro deste processo chamado vida, vamos presenciando um desfilar de mortes, em todas as fases vividas. Finalizações de etapas, de ciclos, perdas de entes queridos, mudanças de cidades, de amizades, de trabalho, alterações no corpo, na situação social, nos planos, na forma de ver o mundo, nos sonhos. Muitas mortes, muitas dores e lamentos. 

A Lei da Impermanência, mostrando-nos o inevitável, porque necessário. 

Porém, quando conseguimos reconhecer que os fechamentos não são para nos destruir, mas para nos fortalecer, automaticamente o sofrimento acaba, dando lugar à aceitação e à gratidão. Deixamos de lado as reclamações, as revoltas, os muxoxos e nos focamos no que deve ser realizado por aqui. 

Eis a maturidade que devemos buscar. 

RENASCER PARA CRESCER EM ESPÍRITO 

Quando decidimos pela reencarnação, morre temporariamente para nós a realidade suprema e absoluta: nossa vivência espiritual. 

Somos Espíritos, portanto nossa dimensão natural é a do mundo dos Espíritos. É lá que podemos ser o nosso eu real, desprovido de máscaras ou necessidades materiais. Conseguimos nossa relativa liberdade, muitas vezes com magnifica ampliação de consciência, podendo focar nossa atenção em fatos e situações realmente relevantes, além de nos dedicarmos a assuntos de maior necessidade. 

Por certo não deve ser fácil decidir pela reencarnação, embora seja esta decisão inevitável, quando precisamos aprender determinadas experiências relacionais e planetárias. Mas a verdade é que o medo do fracasso pode surgir no cenário, causando grande angústia ao Ser reencarnante. O Espiritismo não possui nacionalidade

Vemos, ainda, o luto com relação àquilo que deixaremos para trás - o que chamamos de luto antecipatório 

No livro Nosso Lar, do Espírito André , psicografia de Francisco Cândido Xavier, no capítulo 47, o médico carioca nos conta que Dona Laura, uma grande trabalhadora daquela cidade espiritual, na véspera de retornar ao Plano Físico, encontrava-se ansiosa, séria, acabrunhada. Sentia enorme receio de retornar, tendo em vista as possibilidades porvindouras. Não que ela fosse viver um plano de enormes problemas, mas sabia das dificuldades que enfrentamos na Terra, do quanto precisamos batalhar para alcançarmos a paz necessária para atravessar as dificuldades que a vida se nos apresenta. 

Foi quando Ministro Genésio, um dos convidados para a festa de despedida dela, em tom firme, falou ao seu coração preocupado: 

"... precisamos confiar na Proteção Divina e em nós mesmos. O manancial da Providência é inesgotável. É preciso quebrar os óculos escuros que nos apresentam a paisagem física como exílio amargurado. Não pense em possibilidades de fracasso; mentalize, sim, as probabilidades de êxito”. 

Podemos destacar aqui sobre a necessidade de mentalizar, de focar o positivo da experiência. Do quanto precisamos confiar na dinâmica da Vida, na proteção e direcionamento positivo que ela proporciona, sempre. Quando nossas crenças mais profundas ditam o fracasso, impossível o sucesso. É preciso desenvolver uma visão real, consistente e coerente com a realidade da Vida, que traz o bem sempre, mesmo que sob o disfarce de algo mau. 

Após longo diálogo, Dona Laura encheu-se de coragem e força e tornou a se alegrar diante das oportunidades que surgiriam em sua empreitada na Terra. O luto foi elaborado. Aceitou a necessidade de sua reencarnação com tranquilidade e boa energia. 

SER CRIANÇA PARA ABSORVER 

Assim como ela, quando renascemos precisamos, inevitavelmente, obedecer a Leis Naturais, relativas ao desenvolvimento físico e psicológico, oriundo do mundo material. O corpo infantil vai crescendo e, com ele, os processos mentais vão ficando cada vez mais complexos, muita vez carregados de imputs nem sempre positivos. 

A perda relativa da memória espiritual nos permite estar mais livres para as novas aprendizagens. Interferimos menos, questionamos menos, aprendemos mais. Por outro lado, este momento é de extrema delicadeza e vulnerabilidade. Se os adultos não se atentam para a psicologia infantil, se não observam as necessidades de aprendizagem positiva de uma criança, para além das questões intelectuais, acabam por contaminar o Espírito reencarnante com estímulos deletérios, capazes de comprometer toda a caminhada do Ser. 

Com frequência pergunto às pessoas se elas acreditam ser mais importante ter um filho ou dirigir um carro. Pergunta esta que certa vez fizeram para mim e que me encheu de estranheza. Então me dizem: “Claro que é mais importante ter e educar um filho!”. Diante da óbvia resposta, torno a fazer nova pergunta: “Então, por que será que para guiar um carro nos preparamos tanto, com leituras, aulas e testes, enquanto que, para ter um filho, a maior parte das pessoas somente realiza sexo?” 

Leituras sobre a psicologia infantil, sobre formas de educar, sobre as variadas pedagogias disponíveis são de suma importância! Encontros, trocas e pesquisas, também! 

Eu, como Psicóloga, ficaria imensamente feliz se um jovem casal me procurasse para discutir questões relacionadas a estes temas, antes do nascimento do primeiro filho. Esta seria uma medida inteligente. Mais que isso - uma ação verdadeiramente amorosa, comprometida, responsável. 

E, ainda dentro da temática “morte", Ser criança é também ver morrer na alma, aos poucos, a leveza interior. Com o passar dos anos, os pequenos vão tendo contato com dificuldades e desafios e aprendendo que os adultos nem sempre são confiáveis e corretos. Aprende com a mentira; existe mesmo no meio infantil que para ser amado é preciso bem mais que apenas ser um filho, mas que é preciso corresponder a muitas expectativas, nem sempre possíveis para ela. 

ADOLESCÊNCIA: A PERDA DA INFÂNCIA E O MEDO DO MUNDO ADULTO 

Os anos vão passando e, se ainda encarnados, vamos vivenciando mudanças significativas. Das naturais, relativas ao físico, a perda do corpo infantil gera angústias no adolescente. O tamanho, as formas, tudo gera estranheza. Muitas vezes ele nem consegue se dar conta do espaço que ocupa no ambiente, resvalando nos móveis e cantos, machucando-se. 

Outra perda significativa diz respeito à sua ligação com os pais. Aqueles que pareciam ser os super-heróis perfeitos e verdadeiros passam a ser questionados. Discussões podem ocorrer; o jovem busca sua própria identidade, que deve ser diferente da dos pais. Existe grande conflito interno, com questionamentos variados, que vão desde questões de cotidiano até filosóficos. O adolescente vive um luto dos pais idealizados que devem ser substituídos por figuras mais reais, falíveis. E isso gera angústias. 

Outro luto vivido pelo adolescente é o relacionado à própria identidade. Ele não sabe quem é ao certo. Memórias de tendências desenvolvidas em outras vidas, até então retidas no banco do inconsciente, passam a tomar espaço no psiquismo, o que por vezes causa conflitos naqueles com quem convive, assim como nele próprio. 

Junto a tudo isso, dependendo de suas vivências, do clima de seu lar, das frases que escuta e dos atos que percebe à sua volta, este adolescente pode sentir grande receio de adentrar no mundo adulto, por lhe parecer opressor, injusto e caótico demais. 

Filhos que veem seus pais brigando com frequência ou com conflitos no campo profissional tendem a apresentar dificuldades nos relacionamentos e nas escolhas necessárias. Além disso, podem tentar “segurar" a vida, infantilizando ou evitando responsabilidades por longos períodos. 

Vale dizer que, em todos os casos, o diálogo franco, a escuta amorosa e a orientação segura devem permear as relações entre pais e filhos, para que estas crises, comuns nesta fase, sejam superadas com certa tranquilidade. 

O MUNDO ADULTO, SUAS CRISES E SUPERAÇÕES

Viktor Frankl, famoso psiquiatra vienense, criador da Logoterapia, e sobrevivente de um campo de concentração, dizia que "quando a circunstância é boa, devemos desfrutá-la; quando não é favorável, devemos transformá-la, e, quando não pode ser transformada, devemos transformar a nós mesmos”. 

Complemento a ideia dizendo que, se isso não ocorrer, podemos adoecer. 

Todo aquele que se nega a aceitar o que não pode ser modificado, enrijece diante da vida, estaciona no caos, se enclausura na negação, deixando de observar múltiplas bênçãos que bailam bem ao lado, convidando-o para a fartura da existência. São os mimados da Terra, que pensam ter reencarnado apenas para usufruir, se divertir e descansar. Ledo engano! 

A Vida nos mostra (quando nos dispomos a observá-la) que em todo lugar existe trabalho, esforço e cooperação. 

Desde os menores seres até os mais desenvolvidos, todos precisamos uns dos outros, num rico entrelaçar de existências, formando uma rede sagrada a que também podemos chamar de Deus, já que é Ele o Criador de tudo o que existe. 

Jesus, quando questionado sobre o porquê de trabalhar aos sábados, desrespeitando a Lei Judaica que prega o descanso no shabat (dia de sábado), responde de forma clara e objetiva: “Meu Pai trabalha até hoje e eu também!”. 

E podemos chamar de trabalho tudo aquilo que realizamos dentro e fora de nós com o firme propósito de nos melhorarmos, assim como ao mundo. 

Justamente por este motivo que chamamos de “trabalho de luto” o processo de elaboração no qual o enlutado precisa cumprir determinadas metas, esforçando-se para aceitar a morte, a finalização de algo, trabalhando a dor advinda da perda de forma madura, ajustando-se ao ambiente, transferindo o amor dedicado até então para outras experiências, pessoas ou causas. É assim que vemos pessoas que perderam seus parentes mais significativos conseguindo superar a dor mais intensa dedicando seu tempo e doando amor a outras pessoas ou abraçando nobres causas sociais ou mesmo ambientais. Porque o amor é a fonte primeira de nossa saúde, paz e felicidade. Afinal, somos filhos do amor. Ele é nossa matéria-prima, podemos assim dizer. 

Por todo lado podemos perceber que situações, coisas e seres começam, se mantêm e depois acabam, dando lugar a novas experiências e formas de vida. 

E assim também se dá conosco, claro!

Na fase adulta já é esperado que consigamos trabalhar o desapego com mais maturidade. Aliás, tendo em vista que tudo é impermanente, deveríamos nos educar para a morte, para os fechamentos desde pequenos, sendo orientados pelos adultos a respeito. Isso facilitaria muito, nos protegendo de problemas emocionais e físicos nas fases posteriores. 

Infelizmente, por enquanto, em nossa sociedade existe uma ditadura da felicidade que nega a realidade do fim. 

E quando ele teima em aparecer, nos desesperamos, sem aceitar o inevitável. 

VELHICE, A PERDA DA IDENTIDADE PROFISSIONAL E A PRÓPRIA MORTE A SER TRABALHADA 

E, seguindo pelas trilhas da existência, quando atingimos a última fase desta encarnação, se bem aproveitamos as experiências vividas, já estamos aptos a trabalhar algumas outras perdas, ainda necessárias. 

Uma delas diz respeito à nossa identidade profissional. Deixamos de ser engenheiros, professores e comerciantes para recebermos o título de aposentados. E, em nossa sociedade, isso tem um peso elevado, capaz de fazer sofrer diversas pessoas que construíram a própria existência principalmente sob as bases da profissão escolhida. 

Além disso, os idosos passam a ser vistos como um fardo a ser carregado, um peso para os familiares desatentos e egoístas, que se esquecem rapidamente de todos os benefícios recebidos. 

De forma mais ampla, no nível social, deixam de ter voz, passam desapercebidos, apesar das múltiplas contribuições que possam ter realizado, ao longo dos anos. 

E, já tendo passado por inúmeras perdas significativas, eis que será preciso trabalhar a própria desencarnação, o seu desapego total com as coisas deste mundo. 

Aqueles que conseguem encontrar o sentido de suas existências, utilizando os talentos concedidos de forma útil, responsável e amorosa, conseguem trabalhar este desafio de forma mais tranquila. 

São aqueles que se despedem serenamente deste mundo, contentes pelo que aqui realizaram, certos de que cumpriram suas missões de alguma maneira, deixando boas marcas por onde caminharam. 
As várias mortes em uma vida são necessárias. Sem elas, não há crescimento, não existem novas aprendizagens. São estas mortes que nos impulsionam ao novo, com suas ricas oportunidades. 

Sábios aqueles que compreendem, aceitam, confiam e são gratos às finalizações. São os herdeiros da paz. Pois que vivem a vida, mesmo diante da morte, em harmonia íntima, com o mundo e com Deus. 

Por fim, devemos lutar pela morte suprema, a mais relevante de todas: a do homem velho que ainda habita em nós, com seus vícios e complicações, dando lugar ao novo homem, virtuoso, consciente, plenamente feliz. 

Claudia Gelernter – As várias mortes em uma vida - O Consolador – N° 463 – 01/05/2016

Renascer - A vida não cessa e prossegue além-túmulo

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